Um
pouco da história da formação de professores no Brasil
Ediéllen Braga
Joseane Freitas
Rejane Marques
Roberto Alves
Simone das Neves
Resumo
Neste trabalho, apresentamos um resumo sobre
a trajetória da formação de professores no Brasil.A primeira escola da formação
de professores do Brasil foi em 1835 no governo de Dom Pedro I.Mas foi somente
em 1946 no governo de Dutra que o poder público federal regulamentou os cursos
de formação de professores por meio da Lei Orgânica do Ensino normal.Embora muitos
estados e ordens religiosas já formassem professores em escolas normais desde o
século XIX.Esses cursos, em sua grande maioria, privilegiavam uma formação
geral em detrimento da formação profissional.Em 1971 no governo de Médici, aconteceu
a reforma educacional que foi protagonizada pelos militares. A formação de
professores continuou a ser contemplada em nível médio, para alguns educadores
essa formação representou retrocesso por que enfocava mais as práticas
pedagógicas do que a formação clássica, essa formação foi fortalecida em nível
superior por meio dos cursos de pedagogia.
Palavras-chave: História da formação
de professores; Influências externas; Reformas educacionais.
Introdução
A formação de professores constitui elemento
fundamental para se atingir aos objetivos visados pela educação, uma vez que é
o professor que, em sua prática, operacionaliza as grandes linhas propostas
pelas reformas educacionais. Estas, por sua vez, devem estar adaptadas à
realidade presente na sociedade em que se inserem. No Brasil, porém, nem sempre
se respeitou essa vinculação da escola à sociedade.
Os estudos sobre a história da educação do
Brasil, em particular sobre a formação de professores, referem, com freqüência,
a influência estrangeira que a permeou. Em face disso, optou-se por elaborar um
texto que concentrasse as principais influências nesse processo, considerando
cada período da educação brasileira e como era tratada a formação de
professores em cada período da educação brasileira. Partindo desse pressuposto,
buscaram-se na literatura disponível as influências externas que conformaram a
formação de professores no Brasil.
Segundo Dermeval Saviani (2011) a história da
formação de professores se configuraram em dois modelos contrapostosque
emergiram no decorrer do século XIX quando, para se resolver o problema da
instruçãopopular, foram instalados, em cada país, os sistemas nacionais de
ensino, colocando aexigência de se dar uma resposta institucional para a
questão da formação docente. Na buscadessa resposta, os dois aspectos
constitutivos do ato
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docente, o conteúdo e a forma, deramorigem a
duas maneiras distintas de encaminhar o problema da formação de professores.
De um lado está o modelo para o qual a
formação de professores se esgota na culturageral e no domínio específico dos
conteúdos da área de conhecimento correspondente àdisciplina que o professor
irá lecionar. Considera-se que a formação pedagógico-didática viráem
decorrência do domínio dos conteúdos do conhecimento logicamente organizado,
sendoadquirida na própria prática docente ou mediante mecanismos do tipo
“treinamento emserviço”. Em qualquer hipótese, não cabe à universidade essa
ordem de preocupações. Eis o “modelo dos conteúdos culturais-cognitivos de
formação deprofessores”.
Do outro lado se contrapõe o modelo segundo o
qual a formação de professores só secompleta com o efetivo preparo
pedagógico-didático. Em conseqüência, além da cultura gerale da formação
específica na área de conhecimento correspondente, a instituição
formadoradeverá assegurar, de forma deliberada e sistemática, por meio da
organização curricular, apreparação pedagógico-didática sem o que não estará,
em sentido próprio, formandoprofessores. Eis o “modelo pedagógico-didático de
formação deprofessores”.
Na história da formação docente, verificamos
que o primeiro modelo predominou nasUniversidades e demais instituições de
Ensino Superior que se encarregaram da formação dosprofessores secundários, ao
passo que o segundo tendeu a prevalecer nas escolas normais, ouseja, na
formação dos professores primários.
Os professores estão,
na sua esmagadora maioria, agudamente conscientes dainadequação da formação
profissional recebida; eles se sentem jogados na água sem queninguém esteja
preocupado em ensiná-los a nadar. De um lado, eles julgam quase sempresuficientes
a preparação disciplinar obtida, mas se sentem desguarnecidos na linha de
frente doconhecimento dos problemas educativos, dos processos de aprendizagem
na idade evolutiva,das metodologias didáticas gerais (programação curricular,
avaliação etc.) e das metodologiasdidáticas específicas da matéria ensinada”
(CAVALLI, a cura di, 1992, p. 243)
Desenvolvimento
A
Igreja Católica e o Ratio Studiorum
De 1549, quando os primeiros jesuítas
chegaram ao Brasil, até 1759, ano daexpulsão dos religiosos pelo Marquês de
Pombal, os princípios cristãos cultivados em Portugal impregnaram cada momento
da educação no Brasil. Em sua função colonizadora e civilizadora por excelência
das crianças indígenas, a Companhia de Jesus fazia a “defesa intransigentemente
tradicionalista da transmissão oral das duas fontes da Revelação, a tradição e
as Escrituras” (HANSEN, 2000, p. 21)
Os primeiros professores brasileiros
receberiam uma formação baseada nos clássicos antigos, voltada a padrões da
sociedade européia cristã. Essa formação, recebida em Portugal ou, mais tarde,
no Brasil, constituía a primeira
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e marcante influência externa na formação de
professores da terra recém conquistada.
A
reforma pombalina
O governo português, em 1759, desmantelou a
estrutura administrativa baseada na educação religiosa jesuítica, instituindo
em seu lugar as Aulas Régias, simbolizando a criação da escola pública no reino
e o comprometimento de intelectuais luso-brasileiros com a Ilustração.
A primeira fase da
reforma pombalina iniciou-se com a reforma dos Estudos Menores, que abrangiam
os estudos dasprimeiras letras e das cadeiras de humanidades, o que
correspondia ao ensino primário e secundário. Os Estudos Menores eram formados
pelas Aulas de ler, escrever e contar, também chamadas de primeiras letras
como, aliás, ficaram mais conhecidas, e também pelas Aulas de humanidades, que
abrangiam inicialmente as cadeiras de gramática latina, língua grega, língua
hebraica, retórica e poética, mas foram acrescidas ao longo dos anos com outras
cadeiras, como por exemplo, filosofia moral e racional, introduzida a partir de
1772. (CARDOSO, 2004, p. 182).
O
positivismo na formação de professores
Na época da Proclamação da República,
sobretudo na Reforma Benjamin Constant, de 1890, e na de Rivadávia Correia, de
1991, foi presente a influência dos princípios de orientação positivista. Na
instrução pública, não eram levadas em consideração as peculiaridades do país,
com suas diferenças regionais, sendo que no plano docente destacava-se a
insuficiência quantitativa e a baixa qualificação dos mestres. Esforços
isolados, como o da Reforma Caetano de Campos, no início do período
republicano, visavam à formação de professores capacitados para o ensino.
A formação
dos professores pós 2ª Guerra
Nesse momento, sob inspiração do ideário
iluminista e visando à consolidação do Estado republicano, fortaleceram-se as
idéias liberais e o Estado de direito, cujo debate passou a articular a questão
da instrução pública como “direito de todos e dever do estado”, questão esta
que se faz presente até os dias atuais.Em linhas gerais, o debate se dirigia no
sentido de se construir um sistema nacional de ensino, destacando as escolas
primárias sob a égide do governo central. Na verdade, era uma tendência
dominante já adotada na Europa. No geral, o estado brasileiro se consolidou
visando a pensar, pela primeira vez na história da educação no Brasil, sua
economia, sua inserção no desenvolvimento capitalista, sobre sua própria
educação e conseqüentemente, sua política para formação de professores.
Articulada a um projeto de modernização
nacional a educação foi considerada peça fundamental para uma política de
valorização humana visando a produção e a integração nacional. Para Carvalho
(1989), A superação do
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isolamento das diversas regiões brasileiras
pelo desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte; sua integração num
circuito que garantisse a circulação dos bens materiais e culturais e
constituindoum grande mercado nacional; a modernização da agricultura; o
desenvolvimento industrial com ênfase na indústria de base; a dinamização do
homem como fator de produção por políticas sanitárias e educacionais
integram-se num projeto de maximização e integração dos recursos nacionais
subordinados a concepção de defesa nacional.
O
Estado Novo e a formação de professores
A consolidação do Estado Novo, em 1937, não
avança na questão do Manifesto dos Pioneiros. A Constituição de 1937, em seu
artigo 15, inciso IX, estabelece como competência da União “fixar as bases e
determinar os quadros da educação nacional, traçando as diretrizes a que deve
obedecer a formação física, intelectual e moral da infância e da juventude”
(art. 15, inciso IX). Ao mencionar infância e juventude, explicita-se a
necessidade de educação primária, além da educação secundária e superior.
Nestas condições, os professores são chamados
a se profissionalizarem, a fim de atenderem as demandas pela educação primária.
Isto gera a necessidade de redefinir a sua formação, já atendida nos moldes do
curso normal, criado em 1830, porém expandido no período republicano.
A Lei Orgânica do Ensino Normal foi
promulgada no mesmo dia da Lei Orgânica do Ensino Primário. Seu efeito foi
semelhante e, no geral, segundo Romanelli (2003, p.163) “centralizou as
diretrizes, embora consagrasse a descentralização administrativa do ensino, e
fixou as normas para a implantação desse ramo do ensino em todo o território
nacional”. No geral, não trouxe grandes inovações para a formação de
professores.De acordo com Decreto-Lei 8530, de 02/01/1946, o Ensino Normal
tinha como finalidade: prover a formação do pessoal docente necessário às
escolas primárias; habilitar administradores escolares destinados às mesmas
escolas; e desenvolver e propagar os conhecimentos e técnicas relativas à
educação da infância. Foi dividido em dois ciclos, sendo o 1º com duração de
quatro anos, destinado à formação de “regentes” e funcionava nas Escolas
Normais Regionais. O 2º ciclo, em dois anos, formaria o professor primário e
era ministrado nas Escolas Normais e nos Institutos de educação. Esta
organização reforçou a dualidade na formação dos professores. No geral, a
educação profissional vai sendo concretizada atrelada ao desenvolvimento
econômico capitalista industrial em processo de aceleração e que,
conseqüentemente, exige formação de demandas para atender as suas exigências.
Os cursos profissionalizantes se efetivam, na relação capital trabalho, como a
oportunidade de profissionalização dos menos favorecidos, ou seja, os pobres.
Salário
A questão salarial é um dos fatores que mais
agrega pessoas a uma determinada área, pelo simples fato de termos em mente
sempre a questão do
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dinheiro. O salário do professor está na
lista dos piores pisos salariais em relação a emprego no Brasil. É importante
ressaltar que também pelo simples fato de no passado ser uma profissão que não
era exigido curso superior e somente após a LDB de 1996 que veio a ser
obrigatório a questão da profissionalização ( ao se tratar de especialização)
do professor, porem a LDB só alterou a questão curricular do professor e acabou
se esquecendo de fazer reajustes nos salários.
A pedagogia tecnicista
A
partir do pressuposto da neutralidade científica e inspirada nos princípios de
racionalidade, eficiência e produtividade, a pedagogia tecnicista advogou a
reordenação do processo educativo de maneira a torná-lo objetivo e operacional.
A pedagogia
tecnicista surge nos Estados Unidos na segunda metade do século XX e chega ao
Brasil entre as décadas de 60 e 70, inspirada nas teorias behavioristas da
aprendizagem, onde dever-se-ia moldar a sociedade à demanda industrial e
tecnológica da época.
Esta Pedagogia encontrava-se
de acordo com o modelo capitalista, fazendo parte de sua engrenagem e com o
objetivo de, dentro deste sistema, formar indivíduos “competentes” para o
mercado de trabalho.
Neste método percebe-se a
desvalorização do professor e do aluno só havendo a valorização a tecnologia, a
indústria, o capital. O professor torna-se o especialista, responsável por
"passar" ao aluno verdades científicas incontestáveis. Ou seja, a
escola não trabalhava a reflexão e criticidade nos alunos.
Ø Os conteúdos estavam embasados na
objetividade do conhecimento e os métodos eram programados passo-a- passo, com
uso de livros didáticos, principalmente.
Ø O
diálogo entre
professor e alunos era apenas técnica, com o intuito de transmitir o
conhecimento de maneira eficaz.
Ø A
avaliação estava
pautada na verificação formal, analisando a realização dos objetivos propostos.
Hoje volta a tona a necessidade deste tipo de
educação, sendo criado cursos universitário, com menor duração, para formação
de tecnólogos. Que não é só com a visão de formar empregados para realização de
função pré-determinada e sim com o objetivo de formar funcionários e sedações
pensantes capazes de tomar decisões.E o Magistério cada vez mais sendo exigido
com formação específica para cada área com cursos de formação e especialização
incentivados pelo governo como UNEB 2000, Plataforma Freire e outros.
Considerações
finais
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Assim como o modelo escolar moderno teve sua
origem na Europa, também a
formação dos professores aí encontrou seu
respaldo teórico. Dos jesuítas ao positivismo, chegou-se ao pós 2ª Guerra
Mundial, quando a influência do Banco Mundial e de outros organismos
internacionais como a UNESCO já estavam embrionariamente constituídos. A gênese
da formação docente está entrelaçada com vários outros componentes da cultura
escolar, que nem sempre estão visíveis nos registros oficiais, mas se tornam
perceptíveis
pelo estudo do momento histórico em que
ocorreram.
No campo da formação de professores, nos dias
de hoje, grande parte das medidas implantadas fundamenta-se em orientações
emanadas de organismos internacionais que colaboram em seu financiamento.
Em face disso, entendemos que refletir sobre
a trajetória da nossa escola é requisito básico para que se possa chegar à
implantação de reformas educacionais que orientem a formação docente com vistas
à implantação de um novo projeto social.
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REFERENCIAS
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VALDEMARIN, V. T. O método intuitivo: os
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SOUZA, R. F. de; VALDEMARIN, V. T.; ALMEIDA, J.S. de (orgs.). O legado educacional do século XX.
Araraquara: UNESP - Faculdade de Ciências e Letras, 1998. p. 64-105.
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